quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

JASÃO E OS ARGONAUTAS

Na cidade de Argos
-- Antes de começar, vamos ao templo de Atena, pedir sua permissão para a construção do barco. Sem a ajuda da deusa, nada se faz aqui no porto de Argos.
Argos, melhor construtor de barcos de toda a Grécia daqueles tempos, acabava de aceitar o trabalho de construir uma grande embarcação para Jasão.
Os dois homens, ambos altos e musculosos, com passos decididos se dirigiram ao templo. Atravessaram a cidade de Argos e chegaram até uma pequena colina, onde o templo se situava.
A viajem planejada por Jasão demandava um barco especial, pois a tripulação seria de meia centena de homens, e por certo seria demorada, por mares e lugares desconhecidos, a fim de resgatar seu direito ao trono de Iolco, importante cidade situada na Tessália.
— Quanto tempo levará a construção? — Indagou Jasão.
— Dentro de seis meses estará pronta. — Respondeu o construtor, conhecido pelo mesmo nome de sua cidade, famosa em toda a região helênica.
— Será tempo suficiente para contratar minha marinhagem e providenciar provisões. A viagem será longa e deverei levar bastante suprimento. — Comentou Jasão.
Missão Impossível
Jasão, filho de Esão e neto de Cronos, era o herdeiro, por direito de sucessão, ao trono da cidade de Iolco, fundada por seu avô.
Mas tanto o pai Esão quanto Jasão foram enganados por Pélias, filho caçula de Cronos Ésão havia sido destronado por Pélias, que usurpou o trono e reinava absoluto. Jasão, exilado na Tessália, retornou ao atingir a maioridade para reclamar ao trono que por direito lhe pertencia.
Para se ver livre das constantes ameaças de Jasão, no sentido de recuperar o trono à força, Pélias propôs ao jovem sobrinho um desafio:
— Abandono imediatamente o trono no dia em que você me trouxer o Tosão de Ouro.
Esta é uma missão impossível – pensou Pélias. –Jasão jamais conseguirá roubar o Tosão.
A história do carneiro de lã de ouro.
Pélias tinha razão em pensar que Jasão jamais conseguiria realizar tal proeza. O Tosão de Ouro, também conhecido como Velo de Ouro, que é guardado, muito bem guardado, por um dragão invencível no santuário do deus Ares, no remoto país de Quólquida, situado no extremo leste do Mar Negro, dá origem a uma das mais intrigantes histórias do mundo antigo.
Segundo a lenda, Frixo, enteado de Atamante, devido às intrigas da sua madrasta, fugira da Grécia com a irmã Hele nas costas de um carneiro cujo pêlo era de ouro. Na passagem da Europa para a Ásia, Hele morreu ao cair no mar, no local que passou a ser conhecido por Helesponto. Frixo seguiu na fuga desesperada, pois sabia dos poderes da madrasta, e chegou à região conhecida como Cólquida, onde, obedecendo a um oráculo, sacrificou o carneiro e ofereceu seu couro com a pelagem de ouro a Ares.
A pele foi dependurada no templo e Eetes, rei da Cólquida jurou que o Velo de Ouro jamais sairia dali.
Este juramento iria causar problemas ao rei, pois foi vaticinado por um oráculo que ele, rei Eetes, morreria se o Velo de Ouro fosse roubado ou, de qualquer forma, desaparecesse.
Eetes, que além de cruel era precavido, ordenou a morte de todos os estrangeiros na Cólquida e proibiu a entrada na cidade de estrangeiros ou qualquer pessoa que não tivesse sua autorização expressa. Além disso, cercou o templo com um muro e colocou guardas sagazes, ao mesmo tempo em que mandou espalhar noticias falsas, segundo as quais havia, em volta do santuário, touros que soltavam fogo pelas ventas e por um animal terrível, gigantesco, que nunca dormia, chamado Drakon.
Os Argonautas
Jasão, de espírito aventureiro, ao aceitar o desafio do tio usurpador Pélias e sabendo que a empreitada seria muito, muito difícil, organizou a expedição convocando aproximadamente cincoenta valorosos e destemidos jovens todos conhecidos como heróis de outras façanhas. Cada um deles tinha uma habilidade, que desempenharia com função especifica na expedição.
A Orfeu, por exemplo, que tinha o dom da música, coube a tarefa de cadenciar o trabalho dos remadores e de, principalmente, sobrepujar com sua voz, o canto das sereias que seduziam os navegantes. Tífis, discípulo de Atena na arte da navegação foi designado piloto. Morto na Bitínia, foi substituído por Ergino, filho de Posídon. Castor e Pólux, gêmeos filhos de Zeus e Leda, atraíram a proteção do pai durante a tempestade que a nau foi obrigada a enfrentar. Teseu , considerado o maior herói grego.havia matado o Minotauro; Hércules, filho de Zeus, famoso pelos doze trabalhos, que não completaria a expedição; e muitosoutros,valorosos e destemidos herois das sagas da mitologia.
O construtor da nau, Argos, em cuja homenagem a nau recebeu seu nome, também quis entrar na aventura e arrastou consigo Talau, seu pai, que era o rei de Argos e sequioso de aventuras.
Os tripulantes ficaram famosos e conhecidos na história como Argonautas.
A Viagem
Na primeira escala, os argonautas aportaram na ilha de Lemos, onde moravam apenas mulheres. Elas tinham ofendido Afrodite, negando-lhe o culto. A Deusa castigou-as com um cheiro insuportável, deforma que seus maridos partiam para buscar escravas na Trácia. Movidas pelo ódio e pelo despeito, assassinaram seus esposos, instalando na ilha uma espécie de república feminina, situação que perdurou até a chegada dos argonautas. Aventureiros e privados de mulheres, pois a tripulação era toda masculina, o inevitável aconteceu: engravidaramtodas as mulheres de Lemos, não obstante oterrível mau cheiro que exalavam.
Na ilha de Samotrácia, segunda escala do grupo, se iniciaram nos mistérios dos Cabiros com o intuito de obter proteção contra naufrágios.
No percurso da sua viagem, à procura de Cólquida, Jasão dirigiu-se para o norte, e foi o primeiro navegante helênico a atravessar o Helesponto, ou seja, o estreito hoje conhecido como Bósforo.
Ancoraram na península da Propôntida, no país dos doliones, povo governado pelo rei Cízico. Foram ali recebidos com festas e honrarias e já se fazia noite quando os argonautas partiram para Mísia. Porém, foram obrigados a retornar devido a uma grande tempestade que se abateu sobre eles. Odia se fez noite e a escuridão era total. Os argonautas não foramreconhecidos pelos doliones, devido à escuridão da tormenta e da noite que descera, pensando tratar-se de invasores, atacaram-nos. Instalou-se uma sangrenta batalha. Com o amanhecer, os vitoriosos tripulantes de Argo verificaram o triste engano. Jazia entre os mortos, o rei Cízico, que foi enterrado porJasão e seus companheiros com homenagens e magnificos funerais.
Em Cólquida
Enfim, depois dessas aventuras e desventuras em busca do Tosão de Ou, Jasão e os Argonautas chegaram à Cólquida, reino de Eetes.
Cruel, sanguinário e astucioso, o rei permitiu o ingresso de Jasão e seus companheiros na cidade e, já sabedor dos intuitos do aventureiro, impôs-lhe algumas tarefas. Tinha certeza de que os trabalhos, impossíveis de serem levados a termo, dariam cabo de Jasão.
— Quando você cumprir esses trabalhos, o Tosão de Ouro será seu.
As tarefas, aparentemente impossíveis para homens normais, eram: arar um campo com os touros que cuspiam fogo, os mesmos que vigiavam o templo de Ares: semear nesse campo arado os dentes de Drakon, outra fera que vigiava o templo; lutar contra um exército que iria brotar dos dentes do dragão que ele mesmo, Jasão, havia semeado..
— Tenho certeza que numa dessas, Jason será eliminado. — disse o rei Eetes à sua filha Medéia.
Medéia
Ora, Medéia, filha única do rei, conhecida por suas habilidades na arte da feitiçaria, apaixonou-se perdidamente por Jasão, e por isso, não mediu esforços para auxiliá-lo nas árduas tarefas que o rei havia imposto como condição para entregar-lhe o Velo de Ouro. Jasão, por sua vez, não teve escrúpulos em tirar proveito da paixão de Medéia.
Medeia levou os argonautas ao santuáriode Ares, que ficava a setenta estádios de Síbaris, a cidade que tinha o palácio dos reis da Cólquida. Usando de seus poderes mágicos, ela falou com os guardas na misteriosa língua da Táurida e estes abriram os portões para os argonautas.
Não houve luta, apenas um entrevero no qual os astronautas mataram vários guardas e afugentaram os demais. Enquanto isto, Medeia matou o dragão que nunca dormia,usando venenos e fórmulas de feitiçaria e foi se encontrar com Jasão. Dentro do templo, os aventureiros pegaram o velo e fugiram para o barco, o Argo.
Eetes, alertado pelos guardas em fuga, atacou os gregos, e matou Ífito, irmão de Euristeu, o rei que havia imposto os doze trabalhos a Hércules, porém na luta foi morto por Meleagro.
Os argonautas, apesar de alguns feridos, derrotaram os soldados de Estes e conseguiram fugir, levando a pelagem de fios de ouro como troféu e Medéia, que se apaixonara perdidamente por Jasão.
Pélias, o cruel
Enquanto Jasão viajava embusca do Tosão de Ouro, Pélias, o rei de Iolco, continuava perseguindo a famíliade Jasão. Tentou matar Esão, pai de Jasão, mas este, desgostoso com a ausência do filho e com a perseguição de Pélias, se suicidou. Em seguida, também a mãe de Jason se suicida,enforcando-se.
Esão tinha outro filho, Promaxo, que foi assassinado a mandado de Péleas. Mas a crueldade de Péleas iria lhe valer uma morte trágica, como se verá.
A Saga continua
Mas aventuras de Jasão estavam longe do final. Ventos vindos do sul empurraram o Argo para o oeste, levando-o à embocadura de um largo rio, conhecido pelos gregos como Rio Ister (hoje chamado de Danúbio), pelo qual Jasão e seus companheiros se aventuraram. Para oeste, sempre para oeste, passaram pela Dalmácia e chegaram ao Mar Adria (Adriático). Onde não havia curso de água para o trafego do Argo, a nau era transportada sobre roletes e toras redondas de madeiras, num trabalho impossível para simples mortais mas que os herois poderosos da expedição realizavam com facilidade.
Navegaram pelo Adria, subiram pelo Rio Pó. Atravessaram os Alpes rumo ao norte, passaram por terras de selvagem loiros e guerreiros ferozes e viajaram para o sul, pelo Rio Rone (Ródano) embusca do mar. Navegando pelo Mar Therrekestas(Tirreno) , rumo ao sul, passaram pelo estreito entre a Ilha Estellis (Sicilia) e a ponta da bota da peninsula itálica.
Uma tormenta açoitou Argo, o barco, quando atravessavam o Mediterrâneo, rumo à costa Africana. Aportaram na costa libia e transportaram o barco pelas areias do deserto por uma distância incrível, até atingirem o lago Tritonis (Tripoli). Dali, fizeram-se novamente ao mar e viajando para o leste atingiram Chipre, a ilha mais ao sul da patria grega.
Entre centenas de ilhas, os argonautas viajaram agora rumo ao norte, por águas conhecidas, indo diretamente a cidade de Iolco, onde Pélias, o ursurpador ainda reinava.
Doze anos haviam se passado desde a partida de Jasão. A sua chegada, acompanhado pelos argonautas(desfalcados por mortes e baixas) foi motivo de alvoroço na cidade e causou medo a Pélias.
Jasão ficou sabendo então da morte de seus pais. Irado, dirigiu-se ao palácio de Pélias. Jogando o pêlo de fios de ouro aos pé do impostor, gritou:
— Assassino de meus pais, eis aí o Tosão de Ouro. Agora, cumpra sua palavra e me devolva o trono de Iolco.
Pélias, que já tinha Jasão como morto, relutou em devolver o trono. Mas os argonautas invadiram o palácio e prenderam Pélias, que foi desterrado. Sabe-se que, longe do poder, as filhas de Péleas, incoformadas, mataram o próprio pai.
Jasão assumiu o trono de Iolco, fazendo de Medéia sua esposa a companheira real.
Mas por pouco tempo. Cansado de tantas viagens e desiludido com o exercício de poder, abdicou do trono e retirou-se para Corinto.
Por dez anos viveu com Medeia. Ao fim dos quais, vitima de feitiços e tentações, apaixonou-se por Glaucia, filha de Creonte, o rei de Corinto.
Medéia não se conformou. Mulher detentora de poderes ocultos e mágicos, vingou-se da separação de Jasão, matando Glaucia e seus próprio filhos, que tivera com Jasão.
Os últimos dias de Jasão
Desiludido, Jasão passou a viver em uma propriedadeà beira mar. Jason amava o mar, que era parfa ele como que mais umcompanheiro de aventuras. Durante longas horas passeiva pela praia, em melacólicas lembranças de suas aventuras e desventguras. Gostava de nadar eia atélonge da costa em braçadas vigorosas, apesar da idade.
Numa clara manhã, enquanto nadava, Jasão foi atingido mortalmente na cabeça por uma prancha de madeira , resto de uma nau há muito naufragada.
Em um dos lados da prancha carcomida pelo sal da água do mar e pelo longo tempo de exposição às intempéries, podia-se ler:
ARGO
Jasão encontrou-se com a morte nos restos da embarcação que fizera parte da época mais importante de sua vida.
Antonio Roque Gobbo
Belo Horizonte, 03.02.2013
Conto # 770 da Série Milistórias



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