Vivia em São Roque da Serra um boa-vida, sujeito mentiroso e desabusado. Filho de pai rico, influente político mineiro, amigo do governador, conhecido como Barão. O filho Afonso, conhecido como Barãozinho, não respeitava nada nem ninguém, gostava de freqüentar os puteiros das cidades vizinhas e tinha uma amante por nome Cidinha.
Uma noite, num bar da zona de Monte Alto, cidade vizinha de São Roque, Barãozinho estava com a cuca cheia de gases etílicos e começava a destratar a clientela com palavrões, dizendo gracinhas para as putas, essas coisas de bêbado enjoado – que o Barãozinho, era, sim, muito chato, são ou mamado. Passavam pelo local dois soldados, que, ouvindo a barulheira, entraram:
— Ô cidadão, vai maneirando aí seus modos, senão...
— Senão o quê? Vai encarar?
Ato contínuo, sem dar tempo aos dois agentes da lei para qualquer atitude, passou a agredi-los. Dentro de poucos minutos — o Barãozinho era treinado em artes marciais — os dois soldados estavam no chão. Espertamente, Barãozinho tirou as balas de seus revólveres e os jogou na rua.
— Agora vão procurar o resto do batalhão e voltem aqui se forem homens.
Humilhados, os dois soldados saíram e foram à delegacia, onde deram ciência do ocorrido ao superior. Logo se organizou uma patrulha de soldados liderados pelo Tenente Renato, que em dois tempos chegou ao bar da confusão.
Quando desceram da viatura, um dos soldados, Josias Bento, que já havia servido na delegacia de São Roque, reconheceu no baderneiro o famoso Barãozinho.
— Tenente, me permite uma observação? Esse cara aí é terrível. Além de lutar como ninguém, é arruaceiro de marca e, o pior, tem pai rico e influente na política. Amigo do governador. Se a gente prendê-lo, vai ser o diabo na delegacia.
— E daí, cabo Josias?
— Deixa que eu converso com ele. Já o conheço de outras confusões.
— É arriscado.
— Deixa comigo. Pode levar a patrulha de volta, é bom ele nem ver a gente aqui.
O tenente concordou em levar a viatura para o próximo quarteirão, onde esperariam pelo Josias.
O cabo Josias entrou e cumprimentou Barãozinho com respeito. Barãozinho respondeu à sua maneira:
— Como é, veio me prender?
— Qual nada, Barãozinho. Vim acompanhar o senhor na saideira.
O soldado sentou-se e começou a conversar (e beber) com o arruaceiro. O que conversaram, ninguém escutou. O certo é que dentro de uns dez minutos, Barãozinho pagou a conta e saiu depressa do bar. Entrou no seu fusca azul e sumiu na noite.
O Tenente e seus colegas ficaram intrigados com a ação do colega Josias. Quiseram saber o que ele tinha conversado com o valentão.
— Nada de mais. Sei que ele tem um rabicho, uma tal de Cidinha, lá em São Roque. Só falei pra ele que tava sabendo que a Cidinha está botando os cornos nele, toda vez que ele sai de São Roque. Podia ser que naquele exato momento, enquanto ele tava ali no bar, ela estaria botando os chifres nele. O homem acreditou na minha invenção e saiu que nem um foguete, cês viram?
ANTONIO ROQUE GOBBO
BELO HORIZONTE, 9 DE OUTUBRO DE 2003
Conto # 247 da Série Milistórias
terça-feira, 17 de agosto de 2010
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