O tormentoso Rio Trebbia era um obstáculo entre as terras da Abadia, dirigida pelo abade Colombano, e a cidade de Bobbio, do outro lado da correnteza. Existiam ruinas de uma velha ponte medieval, usada precariamente pelos fieis e pelos monges, quando as aguas do rio estavam baixas. Mas na primavera, ocasião do degelo dos altos montes ao norte, era impossível o trânsito por sobre as ruinas, que ficavam encobertas pela correnteza do rio.
A idéia da construção de uma nova ponte era constante na cabeça de Dom Colombano, mas faltavam-lhe recursos. Um dia o Demônio visitou o abade Colombano e lhe propôs:
— Posso construir a ponte dos seus sonhos em uma unica noite.
— Em troca de quê?, perguntou o santo abade, que conhecia as artimanhas do tinhoso.
— Quero a alma do primeiro mortal que atravessar a nova ponte, respondeu o demônio.
Dom Colombano aceitou a proposta do demonio. O Demônio pensou ter pêgo o abade, mas Dom Colombano teve instantâneamente a visão de como tratar com o Rei do Inferno.
Naquela noite, o Demônio convocou muitos auxiliares que o ajudaram no trabalho de pedreiros. Os capetas auxiliares eram de estaturas diferentes e assim as diversas arcadas da ponte foram construidas em dimensões desiguais. Arcos grandes e pequenos e o piso irregular, com duas corcovas e um rebaixamento na parte central. Uma obra sem qualidades arquitetônicas.
Na manhã seguinte a ponte estava pronta. Ao ver aquela obra tão mal feita, o abade, com seu espírito de caridade, pensou:
= Bem, mas o diabo nem é pedreiro, coitado...
O Diabo imediaamente postou-se no meio a ponte, a fim de obter sua compensação. Ficou muito surpreso ao ver que o próprio Abade Colombano subia pela primeira corcova da ponte, na sua direção. Colombano trajava sua melhor batina, e trazia no pescoço uma corrente de ouro da qual pendia um crucifixo sobre o peito.
O diabo, ao ver o crucifixo, cego de raiva (pois não suportava a visão do Cristo Crucificado), viu que caira num logro. Não podia levar o abade com o crucifixo. Assim, ludibriado pelo Abade, voltou para o inferno, não sem antes ter dado um vigoroso pontapé na sua obra mal feita.
À ponte foi dado o nome de Ponte Gobbo (devido às corcovas) mas o povo a chama de Ponte do Diabo, em uma permanente lembrança do dia que o diabo foi enganado por Dom Colombano.
NOTA EXPLICATIVA
Para melhor entendimento desta lenda, seguem-se algumas informações históricas sobre a Ponte do Diabo, ou Ponte Gobbo, ou Ponte Velha.
HISTÓRIA
A Ponte Gobbo, (conhecida também como Ponte Velha ou Ponte do Diabo) é uma antiga ponte de perfil irregular, sobre o rio Trebbia em Bobbio, na Província de Piacenza, no norte da Itália.
A época da construção da ponte, chamada de Gobbo pela irregularidade e pelas corcovas dos seus arcos, não pode ser datada com precisão, mas é evidente que se tratava de uma construção da era romana, talvez contemporânea da conquista do burgo celta pelo exército de Roma. Certamente recebeu diversas reformas e reconstruções parciais com o correr do tempo.
Foram encontrados vestígios de outra ponte mais antiga, que podem ser datados do periodo Alto Medieval. A construção que se sobrepôs — e que permanece com suas lendas até hoje — parece ser do século VII, obra dos monges da Abadia de San Colombano. Nos Arquivos Historicos de Bobbio encontra-se um documento datado de 6 de abril de 1196, que registra despesas de manutenção da ponte.
A lenda da Ponte Gobbo refere-se a San Colombano, Monge, abade e missionário irlandês, nascido en Navan, Irlanda, em 540 e falecido em Bobbio-Piacenza, em 23 de novembro de 615. Ficou notável por ter fundado numerosos mosteiros e igrejas pela Europa. Chegou em Bobbio no ano 614. Começou reformando a antiga Igreja de São Pedro, construindo ao redor uma estrutura de madeira que constituiu o primeiro núcleo da Abadia, conhecida hoje como Abadia de San Colombano.
ANTONIO GOBBO = Belo Horizonte, 18 de novembro de 2009 = Conto # 663 da Série Milistórias
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
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